Por  que estudar Psicologia Analítica ou Junguiana?

Para refletir

Carl Jung lamentava a inexistência de ‘escolas para adultos’, dado o elevado índice de iliteracia emocional. Com efeito, a incapacidade para gerirmos as nossas vidas manifesta-se calamitosa num mundo que se revela cada vez mais tecnologicamente evoluído e cada vez mais capaz de rapidamente destruir tudo o que existe num apocalipse também ele tecnológico..   

Aprendemos de tudo, desde a engenharia de partículas mais avançada à forma ideal de limpar as partículas de sujidade da cozinha… mas ninguém nos ensina a lidar com as nossas emoções, sentimentos e estados de ânimo. Em suma, não sabemos lidar com o mundo da afetividade, e é nesse campo que a psicologia fundada por Carl Jung se manifesta preciosa: a Psicologia Analítica ensina-nos a lidar com as fontes da nossa afetividade – o mundo dos arquétipos biológicos. Como Jung escrevia em 1936: “quando somos cegos pelo instinto, acreditamos ingenuamente que todos vêm as coisas do mesmo modo que nós. É algo que se aplica igualmente à psicologia do amor. O homem presume que a mulher gosta das mesmas coisas que ele. A ruína do mundo consiste exatamente no facto de acharmos que o outro tem a mesma psicologia que nós. (…) Nada é tão contagiante como uma emoção. Toda a emoção é um movimento para fora. Saímos de nossa própria casa e estamos do lado de fora, misturados com os outros. Forma-se assim uma psicologia que é caracterizada pelo instinto e produz uma projeção que faz parecer que o mundo inteiro se encontra igualmente nesse estado”.Trata-se do velho drama das ‘projeções’: projetamos ou espelhamos no outro parte da nossa psique, inconscientes do facto.E Jung também nos alerta: “o nosso desenvolvimento começa no inconsciente. Se não tomarmos consciência desse facto, esquecemos que descendemos do reino animal. (…) O corpo é um animal; a alma do nosso corpo é uma alma animal. Não devemos esquecer-nos disso. A grande dificuldade é que devemos alcançar a escada que nos conduz às alturas a partir da alma animal totalmente inconsciente”.Repita-se: ‘A grande dificuldade é que devemos alcançar a escada que nos conduz às alturas a partir da alma animal totalmente inconsciente’ – devemos alcançar essa escada que nos conduz a níveis mais plenos de humanidade sem ignorarmos onde essa escada assenta: e ela assenta na mais pura alma animal; i.é, no inconsciente. A Psicologia Analítica (mormente por intermédio da ‘análise individual’, ou psicoterapia analítica) ajuda-nos a lidar com esse lado sombrio de nós mesmos, algo que as hodiernas ‘psicologias positivas’ de cariz orientalizante ignoram, algo que a visão mainstream em psicologia (a visão cognitivo-comportamental) desconhece de todo. Só consciencializando-nos dessas facetas arquetípicas teremos acesso ao mundo mais vasto que nos espera e às forças positivas que esse núcleo de nós mesmos também detém.Estudar Psicologia Analítica é, pois: abrirmo-nos ao mais íntimo de nós mesmos, sondarmos a alma animal para dela escalarmos aos cumes do humanismo mas com os pés assentes na terra – nesse pó de onde viemos e onde voltaremos. Não é o idealismo ingénuo que nos salvará como indivíduos ou como espécie, mas o pleno reconhecimento da nossa raiz e, a partir dela, cumprirmos o nosso destino humano.Num dos seus sermões, o P. António Vieira escreveu: “esta nossa chamada vida, não é mais do que um círculo que fazemos de pó a pó: do pó que fomos ao pó que havemos de ser. Uns fazem o círculo maior, outros menor, outros mais pequeno, outros mínimo: De utero translatus ad tumulum: Mas ou o caminho seja largo, ou breve, ou brevíssimo; como é círculo de pó a pó sempre e em qualquer parte da vida somos pó. Quem vai circularmente de um ponto para o mesmo ponto, quanto mais se aparta dele, tanto mais se chega para ele: e quem, quanto mais se aparta, mais se chega, não se aparta. O pó que foi nosso princípio, esse mesmo e não outro é o nosso fim, e porque caminhamos circularmente deste pó para este pó, quanto mais parece que nos apartamos dele, tanto mais nos chegamos para ele: o passo que nos aparta, esse mesmo nos chega; o dia que faz a vida, esse mesmo a desfaz; e como esta roda que anda e desanda juntamente, sempre nos vai moendo, sempre somos pó”.Pó, pó levantado; no entanto, levantado.

Uma vez mais, Jung: “ninguém terá uma boa relação com o seu inconsciente se não for capaz de fertilizar a escuridão”. E para fertilizar o inconsciente teremos de possuir um ego forte; forte, mas não egóico! Em que é que isto se consubstancia?Jung dá-nos um exemplo: o exemplo da ancestral relação do homem com o cão (o nosso irmão animal) e com o cavalo: o homem é o dono do animal e este o obedece. Mas o inconsciente (o animal) continua a ter o seu lugar e vontade própria! – contudo, “o homem acompanhado pelo cão forma uma unidade, assim como o cavalo e o cavalheiro. O homem é a consciência, o cão o obedece, o cavalo o carrega. Esta é a solução ideal para a relação com o inconsciente animal”.O animal é o símbolo da força do inconsciente; a consciência é o olho que ajuda a triar onde aplicar a força. Devem agir em uníssono; nenhum se subordinando simplesmente ao outro; para que este pó levantado – no entanto levantado! – almeje o infinito, mas de pés (bem) assentes no chão…!Eis, pois, alguns dos motivos por que estudar psicologia analítica/junguiana.E, quem a quiser estudar connosco, por favor visite o nosso site: www.iaap.pt 

João Carlos Major, 12-08-2019
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Face to Face

Carl Gustav Jung, 1959